domingo, 16 de dezembro de 2012

De uma noite em Lisboa


Ontem, quando ia para casa, passei pela Av. Liberdade.
Vi vários sem abrigo. Dois deles, um casal, com um cobertor novo, lavado. A dormirem lado a lado.
Tinham ainda almofadas e o cobertor, já o disse, lavado. Pareciam novos naquilo. A tentarem manter a sua dignidade, o dormirem lado a lado.
Atrás, mais atrás, outro mendigo de barba comprida, casaco limpo, jovem, abordava as pessoas que passavam e estendia-lhes um chapéu enquanto pedia dinheiro. Ninguém olhava para ele. Ninguém. Ele não esboçava qualquer reacção, como se estivesse a testar apenas o interior de cada um, a dar oportunidade de ser diferente...
Depois pensei: era bom que dia 21 o mundo mudasse mesmo. Não podemos continuar a construir a nossa vida para isto. Não faz sentido...

sábado, 15 de dezembro de 2012

Entrecosto à Peça

Dispor no fundo do pirex uma cebola cortada às rodelas
Colocar no pirex a carne previamente temperada com sal
Regar tudo com azeite e um pouco de vinho, ou água
levar ao forno a 200 graus durante 30 minutos

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Famoso por querer ser famoso (ou como anda a Comunicação Social)

A ver se nos entendemos: um tipo que esteve preso por matar uma miúda que 15 anos, foi detido porque tinha planeado matar o cantor Justin Bieber. Que pretendia ele? Ficar famoso. O que faz a Comunicação Social de todo o Mundo? Notícias sobre a detenção, nas quais é referido o nome e até a fotografia do quase assassino.
Ora, o que se fez? Deu-se-lhe, exactamente, o que pretendia: a fotografia em todos os jornais e TVs do mundo. É só a mim que isto dá que pensar?

sábado, 14 de abril de 2012

O fumo e os carros particulares

Alguns dos meus amigos da vida real - que é aquela que não vivo na internet - andam indignados porque o Governo português se prepara para multar os adultos que dentro de um carro com crianças fumem (cigarros, cachimbos, charutos, etc).

Aparentemente, para eles - e para os amigos que com eles concordam fazendo améns - é mais importante a própria liberdade de fumar que o direito de cada criança deste país de não ser fumadora e de não se arriscar a - na pior das hipóteses - morrer com um cancro. Ironizam, como se o fumo passivo fosse brincadeira de crianças, que a seguir o governo vai proibir as crianças de comer Mc Donalds, entre outros exemplos dados.

Ora, além de qualquer nutricionista facilmente nos explicar que comer no Mc Donalds pode não ser problemático se substituirmos as batatas fritas por saladas, as sobremesas por frutas e se evitarmos ao máximo o pão - mais ainda, se as refeições aqui não forem frequentes - então temos já uma primeira falácia. Mas isto vai mais além: uma criança pode ser educada para não querer comer Mc Donalds, pode até tornar-se vegan, mas se viver num ambiente de fumo os riscos que corre são mais que muitos.

Porque no Facebook me calei sobre o tema, de modo a não perder num só mês todos os amigos que tenho na vida real, vou aqui tentar desmontar as ideias pré-concebidas que por aí andam. Antes de mais: eu já fumei, mas nunca fumaria fumaria dentro de casa com um filho, logo muito menos fumaria dentro de um carro com uma criança. Isto porquê? Porque sei que o fumo passivo é prejudicial e, também, que as crianças são mais frágeis que os adultos. Adiante, que os meus amigos - os que fumam - agem da mesma forma que eu agiria. Vão à varanda, não fumam no carro, etc. Mas acham mal que quem fume num carro com uma criança seja multado.

Presumo que seja um resquício de anarquia incorporada, ou talvez um sentimento de revolta contra o Governo (também o sinto, mas não por esta razão), mas desconfio também que é, sobretudo, uma grande lacuna ao nível da reflexão. Afinal, quem é um defensor dos direitos das crianças, de uma vida o mais natural possível, só por distracção pode não se ter apercebido de que não é nada má ideia multar os adultos que, dentro de carros, fumem ao pé de crianças. Antes de mais porque fumar ao pé de crianças é mau para as crianças, mas também porque é um mau exemplo. Pior ainda: conduzir e fumar ao mesmo tempo pode ser perigoso - bem me lembro eu do dia em que deixei cair um cigarro aceso e enquanto o procurava conduzi com a ajuda de Deus, pois nem para a estrada conseguia olhar, com medo de um incêndio a bordo.

Como a minha opinião não conta nada, socorro-me, pois, de dados oficiais. A Organização Mundial de Saúde, por exemplo, que tão citada é quando convém, concluiu recentemente que 40 por cento dos fumadores passivos no Brasil (para Portugal, penso, não existem dados) são crianças. Qual o mal?

O portal de saúde brasileiro explica:
A absorção da fumaça do cigarro por aqueles que convivem em ambientes fechados com fumantes causa:

1 - Em adultos não-fumantes:

• Maior risco de doença por causa do tabagismo, proporcionalmente ao tempo de exposição à fumaça;
• Um risco 30% maior de câncer de pulmão e 24% maior de infarto do coração do que os não-fumantes que não se expõem.

2 - Em crianças:

• Maior freqüência de resfriados e infecções do ouvido médio;
• Risco maior de doenças respiratórias como pneumonia, bronquites e exarcebação da asma.

3 - Em bebês:

• Um risco 5 vezes maior de morrerem subitamente sem uma causa aparente (Síndrome da Morte Súbita Infantil);
• Maior risco de doenças pulmonares até 1 ano de idade, proporcionalmente ao número de fumantes em casa.

Se um adulto, depois de ler estas informações, continuar a achar que não tem mal fumar ao pé de uma criança, sou o primeiro a defender que a pena de multa é má ideia. Mais adequada seria, eventualmente, a de prisão.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Já desistimos, perdemos, fomos derrotados

Circulo no meu carro de olhos relativamente abertos e mais uma vez percebo que desistimos. Portugal desistiu de Portugal. Os portugueses desistiram do português.
Toda a juventude ouvi o meu avô queixar-se dos apresentadores de televisão que diziam esgótos em vez de esgotos; mólhos dos bifes em vez de molhos dos bifes; corrimões em vez de corrimãos e nessa altura mal conseguia perceber o desespero do senhor.

Se ainda fosse vivo - e já partiu em 1998 - o meu avô não resistiria ao que vamos vendo - e ouvindo; não sobreviveria ao acordo ortográfico, estou certo, mas acabaria por dar razão a quem lhe dissesse que se ao menos o acordo fosse respeitado o Portugal nem estaria assim tão mal.
Hoje já há dicionários que admitem a possibilidade de evacuar pessoas (quando evacuar é utilizado para dizer esvaziar, aplicando-se a locais e a situações de emergência - a praça foi evacuada devido a ameaça de bomba significa que a praça foi esvaziada de pessoas, pelo que evacuar pessoas passa por imaginar uma baleia gigante a defecar alguém ou em alternativa o Estripador a fazer um part-time por aí); e há jornais que admitem ser possível falar em medidas (como se as medidas fossem um local onde estivessem), em vez de falarem DE medidas.

Por outro lado, ninguém parece saber que quando é necessário fazer algo, diz-se que temos DE fazer, já que ter que se aplica a possuir. Explico melhor: tenho de ser rápido nas compras, pois tenho muito que estudar. Aqui está mais bem explicado. E digo mais bem de propósito, pois agora há quem ache que está melhor explicado. Se quiserem saber porquê vejam aqui.

A dor suprema, no entanto, chegou-me há dias - no tal dia em que circulava de carro com os olhos relativamente abertos e deparei com um anúncio da Opel que dizia: "Está na hora do seu Opel voltar a casa". Tendo o anúncio custado, obviamente, uma fortuna, irrita-me que nem os criativos nem o cliente saibam que se escreve "está na hora de o seu", sim, "de o" não é sempre o mesmo que "do". E agora socorro-me de outra fonte para explicar.

Claro que há aqueles que não sabem que já falámos muito melhor, acreditando, como escrevem, que já fala-mos bem. Esses são os que dizem: "estives-te bem", achando que faz sentido.

A mim, que assisto a tudo como um velho marreta, apetece-me continuar a dizer, até à exaustão, que desistimos. Do português e de Portugal. E o mais grave é que já nem os professores, nem os jornalistas - que são, em última análise - o bastião da língua parecem preocupar-se. Porque também não sabem.

Desculpem o desabafo, mas é triste ver que até a língua nos levam.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Claro que o mal não vem de ser rico... (ou as vantagens de ter feito uma sardinha dar para três)

Acredito que chamei a atenção de boa parte das quatro pessoas que lêem este blogue, ao utilizar este título. E digo quatro pessoas porque me excluo. Caso contrário, seríamos cinco, o que, parecendo que não, é um número fantástico para quem tão pouco acrescenta à blogosfera - porque não falo de cor, apresento dados que sustentam estas brutais audiências: já três pessoas diferentes deixaram comentários em posts, e a minha mulher, garante ela, costuma cá passar.

Ora, tentando ir ao assunto que aqui nos traz sem muito maiores delongas, preciso de esclarecer à priori que sou contra todo e qualquer tipo de generalização que não seja feita por humor, em jeito de caricatura. E digo-o porque entendo que colar um rótulo em alguém é das maiores injustiças - e imbecilidades - que se pode fazer. Um homem de 40 anos que ande sempre de calças de ganga e t-shirt não é, forçosamente, um desleixado. Pode ser apenas um descontraído, eventualmente até um criativo, alguém que não se prende a convenções sociais. Mas pode, também, ser um desleixado. Topam?

Segue-se uma das mais surpreendentes passagens de tema, alguma vez vistas num blogue em português (não tentem fazê-lo em casa, pois eu sou um profissional altamente especializado): todos aqueles que comeram uma sardinha a dividir por três pessoas são gente mais humana - cá está uma estúpida generalização, mas que serve na perfeição para ilustrar o que atrás dizia (ou seja, entronca na ideia, pelo que se justifica ser esta passagem de tema surpreendente, na medida em que não passa na realidade para outro tema).

Apresento mais alguns exemplos: entre as profissões de escrita - jornalistas, escritores - é mais frequente surgir gente talentosa, competente e muito capaz, de estratos sociais mais baixos. Ou, na pior das hipóteses, de estratos mais humildes. Na minha vida já me cruzei com alguns jornalistas. Alguns eram de famílias endinheiradas, daquelas que normalmente estão nos jornais, tal como os filhos queriam, mas do outro lado da barricada; mas também já me cruzei com filhos de produtores de leite em aldeias minúsculas deste nosso Portugal. Podemos dizer que se os dois chegaram aos jornais, naturalmente os dois têm capacidade, mas o que quero chegar a dizer é que, tal como mais depressa se passa um camelo pelo buraco de uma agulha que entra um rico no reino dos céus, também mais facilmente há bons jornalistas/juízes entre aqueles que vêm de caminhos difíceis que dos que os tiveram facilitados. Quem o diz não sou eu, é a Bíblia. E eu aproveito para fingir que vou dar mais um salto entre temas, prosseguindo rumo à ideia desde ontem planeada, mas que só agora consigo escrever. E agora já venho sustentado pelo facto de ter conseguido utilizar a palavra "rico", como forma de me referir a alguém que é, chamemos-lhe assim, ... rico! E por rico entendamos apenas a definição popular, para quem o rico é aquele que tem um carro caro e que nunca teve de dividir uma sardinha com um irmão (quem tem um carro caro e dividiu uma sardinha com um irmão não é rico; é um senhor doutor - daqueles ditos com reverência e cordialidade).

Ora, neste momento estou radiante. E estou-o porque não só já falei de ricos como falei de carros caros. E se falei de ricos e de carros caros - e ainda de dividir sardinhas ao almoço - então é porque estou muito próximo de conseguir transmitir aquilo que me traz até vós neste dia: e isso é que deve existir uma espécie de lei qualquer universal que faz com que os ricos - lembram-se da generalização que deve servir apenas como caricatura? - estacionem mais vezes fora dos locais indicados os seus carros caros do que o fazem quer os doutores (os tais ricos que tiveram de dividir sardinhas) e ainda os comuns mortais - aqueles que quando vão almoçar fora com a namorada pedem duas bebidas iguais e que, se as bebem rápido demais, pedem uma terceira, cujo preço e conteúdo é dividido por todos.

Na minha rua, por exemplo, quando um carro está em cima do passeio ou quando outro ocupa dois lugares, o normal não é ser um cintroen AX velhinho a violar a lei: normalmente é um BMW, um Mercedes, até um Volkswagen Golf, ou Passat, dos grandes, bem novitos - ou quase. Existe, e lá está uma generalização que é caricatura - pois o real problema é de educação -, uma sensação de impunidade reinante para quem tem mais dinheiro. Seja porque podem pagar as multas sem problemas, seja porque tanto lhes faz se os seus carros aparecem com riscos, estes homens e mulheres provam, a cada dia, que não sabem o que é viver em comunidade. Talvez por, em muitos casos, ser raro sair do condomínio fechado onde residem, certos "ricos" tendem a esquecer-se de que existe um mundo, cheio de gente, que roda todos os dias - estejam eles vivos ou mortos. Como diz o presidente da federação de râguebi do Uruguai, um dos sobreviventes de um histórico acidente aéreo nos Andes: "estive morto e voltei. E quando voltei a casa vi que se tivesse morrido mesmo nada teria mudado. O vizinho do lado continuava a tratar a relva todos os dias, como antes de eu ter morrido"

Ora, as pessoas que nunca tiveram de partilhar uma sardinha por três (como aconteceu com muitas famílias portuguesas durante as duas Guerras Mundiais) dificilmente saberão por experiência própria o que é precisar de algo e não ter. E isso por vezes acontece com os tais donos dos carros caros - acho que há quem lhes chame ricos, já o disse? Como não têm problemas para arranjar os riscos que colecionam, como não lhes falta dinheiro para pagar reboques, no fundo como nunca saem do condomínio onde passam os dias, nem se apercebem de que ao estacionar o seu carro caro (de rico, vá) ocupando dois lugares estão, na prática, a impedir alguém de se despachar, tal como eles gostariam de fazer, ou de, simplesmente, parar o próprio carro em segurança.

Eu cansei-me disto. Sim, cansei. E é por isso que vou entrar em contacto com os dinamizadores
do blogue "Passeio Livre" para lhes pedir os autocolantes que, li aqui, pretendem mudar mentalidades. Afinal, já o disse: o mal não está em ser-se rico. Está na educação. E essa, felizmente, ainda depende de nós passá-la.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Das coisas que não sei fazer

Há qualidades que se vai perdendo ao longo da vida, digo eu, agora que olho para trás e percebo que deixei de ter coragem em mim para aliviar a dor dos outros.

Se uma amiga desempregada, mãe solteira, cheia de dívidas, doente e sem casa para morar me diz, perguntando, "isto vai melhorar?" não sei bem como dizer-lhe que sim. Ou que não. Se a Adele me chora no ombro porque o namorado a deixou e agora ela nunca vai encontrar alguém como ele, como lembrar-lhe que de todas as vezes que por isso passou acabou por conhecer um novo amor e acreditar na felicidade? Se alguém faz luto pela perda de um ente querido, quais as palavras a utilizar?

Na verdade, o problema hoje, acho eu, é que deixei de acreditar no poder curativo das palavras. Quer dizer, as palavras têm poder curativo, sim, mas não por serem ditas de viva voz por alguém que nos é querido. Admito uma excepção: quando as nossas palavras são de crítica, podem surtir efeito, na medida em que quem nos é querido pode surpreender-se com o que lhe dizemos e, assim, tentar corrigir(-se).

Quem se queixa de algo a um amigo espera compreensão. E se espera compreensão, não fica surpreendido por tê-la. Parece-me óbvio. E é por isso que quase tudo o que podemos dizer a alguém para confortá-lo, não tem o efeito desejado. Perante a impossibilidade - frustrante é certo - de ao contrário de Deus, não bastar uma palavra nossa para que alguém seja salvo, sugiro, pois, que saibamos oferecer os silêncios. E as palavras dos outros, sempre que se justifique. Afinal, na maior parte das vezes, não é de palavras de conforto que as pessoas precisam. É apenas de um abraço. Ou seja: de conforto.

terça-feira, 27 de março de 2012

(Des)Amizades de rede frágil

Pode a amizade do século XXI sobreviver às modernas formas de expressão? Estranha pergunta? Nem tanto, se bem pensarmos sobre o assunto. E, claro, se eu o enquadrar um pouco melhor: com esta pergunta, quero chegar à reflexão sobre se as amizades que temos são suficientemente fortes e maduras para sobreviver às inevitáveis traições e provações da internet.

Ao início era o messenger. Tínhamos uma lista de amigos, maior ou menor, e permitíamos que eles soubessem quando estávamos em frente ao computador, da mesma forma que saberíamos deles. A vantagem óbvia era que só existia comunicação quando ambos os interlocutores tinham vontade e as conversas eram, por norma, simples. Homem seduz mulher que seduz homem (ainda que outro); amigo desabafa com amigo que o ouve; jovem conhece jovem; etc. As conversas eram sempre centradas em algo de comum a ambos. As saudades de dois apaixonados, a combinação de uma ida ao cinema, a fofoca sobre a última novidade lá da escola, etc. O messenger, podemos dizê-lo, criava até uma ilusão de maior proximidade entre as pessoas. Ao mesmo tempo, no entanto, começava aqui o processo de afastamento. Aos poucos, íamos deixando de ver o outro, de pensar em estar com ele. Afinal, todo o Mundo estava acessível à distância de um monitor, de um teclado.

Seguiu-se o primeiro esboço de rede social, com a adesão em massa ao Hi5, um site complexo que pretendia, basicamente, juntar pessoas que partilhavam fotografias, permitindo comentários e, sejamos honestos, pouco mais. Era um verdadeiro catálogo de pessoas. O primeiro com sucesso à escala global. Ainda havia pouca noção entre as pessoas de que a privacidade é um bem fundamental, que deve ser guardado, se preciso, com a vida. E como não existia essa noção quase toda a gente conseguia vasculhar a vida de quase toda a gente. Era fácil procurar alguém pelo nome e rapidamente perceber a sua história: escola, local de residência, emprego, estado civil, etc. Com o Hi5 deu-se um novo passo. Os nossos amigos - que é assim que se chama às pessoas que adicionamos numa rede social - eram, por vezes, meros conhecidos de conhecidos; a miúda gira com que nos cruzávamos, aquele actor que admiramos. Enfim, a amizade entrou na quinta dimensão, se assim se pode dizer. Com este salto chegou também a possibilidade de sabermos quem são os amigos dos nossos amigos. Era muito bom, diziam-nos, pois ali era possível encontrar pessoas perdidas, refazer laços que, acreditávamos, eram realmente fortes. Verdade seja escrita: pouca gente terá dado melhor utilização a esta rede social do que ver as fotografias dos amigos. Ponto.

Na terceira era veio o Facebook. Como me dizia um amigo, hoje quem não tem Facebook não existe. Ou melhor, existe, como é óbvio, mas está de fora de muito do que se passa. É exagero, claro, mas o Facebook pode hoje ser um cartão de visita. Se alguém tem uma conta no Facebook e se limita aos jogos na coisa não deverá ter grandes problemas - provavelmente não gosta de dar opiniões online sobre a actualidade, ou sobre temas em discussão no mural dos amigos.
Já quem gosta de acompanhar as notícias diárias no próprio mural, ou nos murais "vizinhos", clicando em "gosto" ou comentando os assuntos, se arrisca a experimentar alguns dissabores.
O Facebook tem como primeira vantagem o facto de permitir traçar uma radiografia da personalidade daqueles que adicionamos como amigos. Aquele colega de escola que nos parecia interessantíssimo, pode, afinal, dedicar-se apenas a comentar o último episódio da telenovela ou a debater a teoria da relatividade, em busca de alguma falha - assuntos que por muito que a vários interessem não serão o "core" dos utilizadores de Facebook.
A malha vai estreitando e já se percebeu que de onde vêm os perigos virtuais é da polémica. Alguém que contesta uma decisão do primeiro-ministro habilita-se a que um dos seus amigos seja um entusiástico apoiante do programa do governo. E que o diga. Afinal, se eu posso criticar o treinador de um clube de futebol, qualquer amigo meu tem o direito de contestar a minha opinião. E de argumentar. A questão principal é a seguinte: quantos de nós estaremos preparados para enfrentar uma discussão que por ser escrita se torna muito mais definitiva?
E quando começa a ser evidente que discordamos de alguém que tínhamos por amigo chegado em quase tudo o que pensamos da vida? Que fazer? Deixar morrer a amizade que, afinal, talvez nem existisse? Já amigos me têm dito que a solução será "desamigar" as pessoas que nada têm a ver conosco, mas como perguntava o Seinfeld num episódio, como se faz quando uma amizade não nos serve? Telefona-se ao amigo e diz-se "temos de falar"? E depois toma-se um café no qual se diz "isto não está a funcionar, é melhor darmos um tempo"? Ou "conheci outra pessoa e tornei-me amigo dela"?
Quem até tem bom estômago para lidar com as discussões no Facebook acaba, muitas vezes, por deparar-se com outros problemas. Estes talvez mais sérios: o facto de os amigos - ou supostos amigos - por vezes não participarem no debate de ideias, e depois escreverem nos seus próprios murais frases que ridicularizam os argumentos tidos noutras paragens, o que roça já, mais que a "desamizade" a deslealdade.

Na verdade nem me parece dramático que a internet faça parte do natural processo de selecção de amigos. Todos começamos com grupos grandes e, no leito da morte, normalmente restam-nos poucos, que são como irmãos. Esses são aqueles que realmente importam.

domingo, 25 de março de 2012

A prometida canção

Tinha prometido uma canção infantil ao género das melhores (e mais sádicas que por aí vão sendo feitas). Se alguém quiser musicá-la, avancemos...

Marcos Marquinho

"Marcos, Marcos, Marcos
Afinal quem és tu?
Aposto que não saltas
como o canguru

Salto, Salto, Salto
E vou bem alto
só que quanto caio
o meu pé parto

Partes, partes, partes
O teu pézinho
fazes sentir pena
és coitadinho

Coitad', coitad', coitad'
partiste a mão
quando saltaste
do teu colchão

Nada, nada, nada
Coitado não sou
saltei na lareira
e o outro pé queimou

Salta, salta, salta
ao pé coxinho
mesmo que não saltes
quando fores velhinho

Velho, Velho, Velho
Não sei se lá chego
Sempre que conduzo
Muito vinho bebo

Bebe, bebe, bebe
sempre a acelerar
se cantares bem alto
nunca vais parar

Copo, copo, copo
mais um copinho
encha-me este copo
do seu bom vinho

Chora, chora, chora
a mãe do Marquinho
bebia muito
mas era bom menino"

Então, é suficientemente horrível para ser gravada com voz de criança?

sábado, 24 de março de 2012

Se me permitem

Vejo gente cheia de talento escrever livros e não ter 2 minutos de projecção e vejo gente que nada fez a não ser despejar o ego nas páginas de um livro a conquistar o mundo. Admito que isso me incomoda. Mas deve ser só de mim, claro.