quinta-feira, 29 de março de 2012

Das coisas que não sei fazer

Há qualidades que se vai perdendo ao longo da vida, digo eu, agora que olho para trás e percebo que deixei de ter coragem em mim para aliviar a dor dos outros.

Se uma amiga desempregada, mãe solteira, cheia de dívidas, doente e sem casa para morar me diz, perguntando, "isto vai melhorar?" não sei bem como dizer-lhe que sim. Ou que não. Se a Adele me chora no ombro porque o namorado a deixou e agora ela nunca vai encontrar alguém como ele, como lembrar-lhe que de todas as vezes que por isso passou acabou por conhecer um novo amor e acreditar na felicidade? Se alguém faz luto pela perda de um ente querido, quais as palavras a utilizar?

Na verdade, o problema hoje, acho eu, é que deixei de acreditar no poder curativo das palavras. Quer dizer, as palavras têm poder curativo, sim, mas não por serem ditas de viva voz por alguém que nos é querido. Admito uma excepção: quando as nossas palavras são de crítica, podem surtir efeito, na medida em que quem nos é querido pode surpreender-se com o que lhe dizemos e, assim, tentar corrigir(-se).

Quem se queixa de algo a um amigo espera compreensão. E se espera compreensão, não fica surpreendido por tê-la. Parece-me óbvio. E é por isso que quase tudo o que podemos dizer a alguém para confortá-lo, não tem o efeito desejado. Perante a impossibilidade - frustrante é certo - de ao contrário de Deus, não bastar uma palavra nossa para que alguém seja salvo, sugiro, pois, que saibamos oferecer os silêncios. E as palavras dos outros, sempre que se justifique. Afinal, na maior parte das vezes, não é de palavras de conforto que as pessoas precisam. É apenas de um abraço. Ou seja: de conforto.

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